Este blog está um tanto abandonado ultimamente, eu sei. Não é por falta de vontade de atualizá-lo, de escrever- longe disso! É na verdade resultado de momentos conturbados na minha vida (normal né rs).
No meio tempo que não escrevi aqui aconteceram muitas coisas...Larguei o emprego na Nestlé, tive projetos e muitas responsabilidades no curso etc. Enfim tudo isso acabou! O tempo em que o cansaço e a indisposição me venceram ficou para trás.
Agora pretendo retomar meu blog querido. =D
Peço desde já desculpas por estar meio enferrujada, mas logo pegarei o jeito de escrever aqui de novo.
Como texto-retorno pensei em um milhão de assuntos. Dentre eles as novidades do cenário político mundial, uma certa sociedade secreta 'fdp' que controla o mundo, saudades, infância... Tantas coisas que queria expor aqui!
Mas acho mais propício falar sobre algo que já prometi aqui outras vezes, a Juliana.
No final de 2009 a situação financeira aqui tava bem difícil. Eu estava no segundo ano do ensino médio, cursando em um colégio particular e só tinha uns 30% ou 35% de bolsa. O fim do ano se aproximava e já sabia que não poderia concluir o ensino médio lá, nem com 70%...80% de bolsa eu conseguiria pagar a mensalidade.
Para piorar, minha família não quis fazer muito para ajudar. Eles meio que se conformaram e já iam começar a procurar colégios públicos para mim. Tenho nada contra a escola pública não, mas a questão é que eu tinha amigos lá na antiga. E além do mais, gostava de lá, me sentia em casa. E sem contar também que... eu queria passar no vestibular, e sabia que sem a boa base que tinha lá, seria ainda mais difícil.
O jeito foi tomar coragem e ir até a diretora.
Pedi um emprego- como outras alunas e ex-alunas já pediram pelo mesmo motivo.
Elas trabalhavam ou na secretaria ou na educação infantil, então fui na intenção de trabalhar na mesma coisa. Aceitaram minha proposta; mas no primeiro momento eu não sabia qual seria função, só especulava ser como a das outras alunas-funcionárias.
Ficou combinado que eu começaria a trabalhar no primeiro dia de aula do ano seguinte.
E, sim, seria um 'trabalho surpresa' até lá.
Chegado do dia...Bem, fizeram um discurso de introdução para me explicar o que faria. O resumo disso é: por ter um irmão autista, acharam que estava capacitada para tomar contar de uma 'criança especial', portadora da Síndrome de Down. Na hora fiquei sem chão. Primeiro porque mal tínhamos descoberto o que meu irmão tinha, portanto era novidade pra mim essa coisa de lidar com essas adversidades; segundo porque Síndrome de Asperger e Síndrome de Down não são nada parecidas.
E também fizeram uma propaganda bem ruim da menina, disseram-me que era agitada, briguenta e daí pra pior.
Nas duas primeiras semanas ela não foi à aula, e fiquei feliz por isso- admito. Torci para ter saído da escola. Na verdade, já tinha me acostumado com as outras crianças e estava morrendo de medo de não saber lidar com a Juliana.
Então eis que o temido dia chegou...
Caramba, como ela deu trabalho! Batia, cuspia, fugia pele colégio, puxava cabelos!
Cheguei em casa chorando vários dias, queria desistir!
Ah como me arrependi de ter pedido o emprego durante aqueles dias...
Estava ficando louca, cansada e completamente perdida!
A turma também não a ajudava, todos viravam as costas para a Juliana. E honestamente não tirava a razão deles naquele momento. Se tivesse 5 ou 6 anos e uma menina muito maior que eu já chegasse cuspindo, batendo e puxando meus cabelos, também não seria melhor amiga dela.
Foram uns dois meses assim, e honestamente não sei como consegui tanto tempo. Poucas horas com a Juliana já me levavam à exaustão.
Foi então que Deus ouviu minhas preces! A Juliana e eu mudamos de sala: outra professora, outras crianças... E foi lá que as coisas enfim melhoraram.
A tia Elô já havia trabalhado com a Juliana antes. E foi ela que me ensinou a lidar com a menina. Fez com que percebesse que ela não era daquele jeito violento, só agia assim quando se sentia rejeitada. A tia Elô foi praticamente uma mãe que ganhei, é uma pessoa que estará sempre no meu coração, com o maior carinho e gratidão do mundo.
Graças a essa mãezona, daí em diante tudo foi tão diferente... não só no emprego, mas na minha vida também. Aquela menininha foi capaz de me transformar de uma forma que só Deus sabe.
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Nisso passou um ano,terminei a escola e não tinha mais obrigações com a Ju.
Mas inesperadamente voltei para o colégio, para cuidar da Juju (não conseguiram alguém que soubesse cuidar dela, pra ser bem sincera ). Dessa vez, não quiseram deixá-la com a Tia Elô, pois acharam que se desenvolveria melhor se aprendesse a lidar com outras professoras também.
Enfim a Juliana era minha responsabilidade- só minha.
A outra professora não levava muito jeito com ela, e as outras crianças também não eram lá muito amáveis com as diferenças.
Quando notei eu já estava protegendo a Juju daquilo tudo, cuidando dela mais como se fosse uma filha do que um trabalho.
Eu me diverti tanto quando nos tornamos amigas!
Sim, porque éramos amigas.
A gente brincava, ela contava as coisas da sua vida, suas invenções, sempre me perguntava se estava bem e fazia carinho.
E numa sala com cerca de 30 crianças, preferia a Juliana a qualquer outro.
Mesmo com seus problemas e dificuldades; porque ela é especial sim, mas não pela síndrome.
Sabe, o carinho dela era mais sincero. Ela era espontânea e inocente como nenhuma outra criança ali.
E falando sério...hoje dói tanto olhar pra trás...
Sinto tanto sua falta...
Mesmo quando estava triste e cansada aquela menininha era uma pontinha de luz no meu dia. Ela me fez feliz como poucos fizeram. E ao contrário de todos, ela fez isso só por existir; sem se esforçar, sem a intenção.
Aquela garotinha é muito mal compreendida; e no começo eu fui uma das que compreendeu mal.
Ela é doce, carente,teimosa e brincalhona.
E sabe a única coisa que ela precisa? De amigos. Ela só precisa de alguém que confie nela e em quem ela também confie. Uma vez que ela percebe que alguém deu um voto de confiança, ela cumpre o que promete sem precisar ser vigiada o tempo todo.
Confiar nela não era pra ser difícil...
Infelizmente é.
Ninguém olha pra ela e vê uma criança linda. Olham e enxergam a Síndrome de Down- procuram nela traços da personalidade de quem tem essa síndrome, justificam tudo pela porcaria da Síndrome de Down.
Juliana gritou? Ela tem Down;
Juliana bateu? Ela tem Down;
Juliana cuspiu? Ela tem Down;
Juliana é uma CRIANÇA- Ela não é só a Síndrome de Down.
Ela grita sim, porque a tratam com discriminação.
Ela bate sim, porque seus coleguinhas simplesmente se desfazem dela na maior cara de pau, como se ela não estivesse do lado ouvindo tudo. Na verdade, chega a ser cruel a maneira como a excluem.
Ela cospe sim, principalmente quando você chega brigando com ela pelos motivos anteriores, sem mostrar a menor compreensão pela situação.
E as mesmas pessoas que acham que tudo que ela faz é errado são incapazes de puni-la. Adivinhem qual o motivo... "Ela é uma criança especial". Ela ser 'diferente' é motivo pra tudo... é uma ótima maneira de disfarçar a inércia e a incompetência de quem não sabe tratar a menina.
Ela até pode ter dificuldades por ser Down. Mas convenhamos que não é burra, oras!!
Eu NUNCA dei confiança pra dona Juliana.
Ela fazia algo errado, e por mais que eu compreendesse os motivos, brigava sim.
Deixava de castigo, sem recreio, sem coisas que ela gostava de fazer.
Mas eu JAMAIS fiz isso da forma que outros tentaram fazer. Não fazia isso pra puni-la, e sim para educá-la. Eu dava um castigo mas explicava a razão. Fazia-a compreender que fez algo errado; ela pedia desculpas para quem machucou ou seja lá o que tivesse feito. E não só isso: também conversava com quem causou essa reação nela, para que entenda que com carinho e respeito a Ju vira a melhor amiguinha que algum deles poderia ter.
E para aqueles que ACHAM que sabe lidar com a Juliana, mas quando estão com ela só percebem o jeito agitado e as atitudes erradas, uma observação: Quando estava comigo ela era educada. Mil vezes mais educada que qualquer outra criança daquela turma. Juliana sabia bem o que era um por favor e um obrigada. Pedia desculpas e com licença.
Quando eu tomava conta dela, ela parou de fugir todos os dias, correndo pelo colégio e se escondendo. Ela começou a aprender a ler, já sabia os sons de algumas sílabas e começava a aprender o próprio nome. Ela se tornou carinhosa até com quem não lhe dava lá muita atenção. Ela respeitava e obedecia.
Eu, com meus 18 anos e nenhuma instrução pedagógica, consegui muito mais do que muitos com anos de profissão e experiência com 'crianças especiais'.
Por que?
Porque pra mim Síndrome de Down não torna ninguém bicho. Não torna ninguém menos criança,menos humana. E, sim, isso aprendi com a Juliana.
Não foi uma lição tão difícil assim, eu só precisei abrir um pouco mais meus olhos e minha mente, observar como ela precisava ser 'normal', como ela queria ser aceita.
Para trabalhar, abri mão de muita coisa. Momentos com meus amigos, aulas de pré-vestibular, brincadeiras.... basicamente abri mão dos meus 17 e 18 anos. Mas tudo que vivi com a Juliana valeu muito mais.
Mas,se hoje me dessem a opção de passar os intervalos com meus amigos, assistir aula, ficar com a 'galera', eu sem a menor sombra de dúvidas escolheria passar o tempo com a Ju.
Tudo que essa menina me ensinou, tudo que vivemos, não ensinam em sala de aula e nenhum dos meus colegas de classe já experimentaram.
Ela foi o que aconteceu de mais marcante. Graças a Juliana minha vida tem um marco, tem algo que realmente valeu a pena e de que me orgulho.
E antes de qualquer pessoa querer lidar com alguém 'especial', dou um conselho: garanto que vocês têm muito mais a aprender do que ensinar.
Então feche a boca e abra o coração.
Simples assim.
Desse jeito deu certo pra mim e pra ela.
Eu só deixei o emprego porque infelizmente um colégio familiar é algo parecido com um clã. Não há muitas possibilidades de crescimento e sou muito nova para me prender num lugar que não me daria futuro.
Saí de lá com o coração partido e com lágrimas incessantes.
Não, não sinto saudade de ninguém especificamente de lá, nem do colégio em si.
Mas a Juliana...
Como dói o coração ao lembra-la.
Se há algum arrependimento por te deixado a escola é por causa da Juju.
Queria tanto encontrá-la, visitar ou sei lá.
A distância dela me incomoda.
É curioso... consegui um emprego em que supostamente deveria cuidar de uma garotinha dependente e que precisava de cuidados. E quem se tornou dependente dela fui eu.
Engraçado como para alguns pode parecer um fardo cuidar de crianças assim, são dois extremos: ou protegem demais, só faltando colocar em uma bolha, ou tratam como se fosse um fardo extremo. É apenas uma criança, ri, chora, traz alegria, faz besteira, normal. Fico feliz de você ter encontrado uma pessoa que só trouxe coisas boas para a sua vida, esse tesouro ninguém tira de você, porque carrega com você em seu coração.
ResponderExcluirE você ainda quer fazer Direito? Repensa isso com carinho.
Fui.
Eu estou tentando passar pra Letras esse ano, pra cuidar de crianças especiais. Eu ainda quero Direito, é um projeto futuro. Mas por agora, eu sinto que sou mais importante para essas crianças,
ResponderExcluirps; Obrigada pelo comentário H.
ResponderExcluirrsrsrsrsrs''...
ResponderExcluirEu conheci a ju....uma menina maravilhosa, que só precisava de carinho e atenção certa....lindo o texto quell =)'
Obg Isa ♥
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